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Marcos Assi

Professor e Comendador MSc. Marcos Assi é Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP.
Possui Certificação Internacional pelo ISACA – CRISC – Certified in Risk and Information Systems Control e Certificação pela Exin – ISFS – Information Security Foundation e autor de diversos livros. +

Quantas Marianas e Brumadinhos teremos que vivenciar?

Por Marcos Assi

Neste fim de semana, li, ouvi e assisti muita gente expressando suas opiniões com emoção, sentimento, rancor e revanchismo, mas será que é este o caminho?

Gostaria de aproveitar o momento e não o fato, pois tudo que aconteceu tem como base as empresas, governantes, legislação, falta de capacidade, e principalmente ausência de avaliar como se deve, sem pensar somente nos resultados financeiros, que ao meu modo de ver, não podem ser deixados de lado, mas os processos e formas de se fazer acontecer devem ser avaliados.

Quando falamos que a alta administração deve acompanhar e apoiar a implementação de controles internos, compliance e riscos podemos afirmar, sem medo de errar, que tudo ficaria muito mais produtivo. Nessas horas todo mundo apresenta soluções mágicas para melhoria de processos e gestão de negócios, inventam certificações, regrinhas que não se sustentam, criam siglas que ninguém entende, entre outras coisas, contudo, para melhorar os processos, não vejo tantas evidências.

Acredito que a solução mais prática seria gerenciar as condutas e aprimorar as posturas de todos, sejam empresários, legisladores, fiscalizadores e a própria população, que poderia cobrar que a gestão de riscos realmente fosse implementada, pois somente com mudanças na forma das pessoas agirem nos negócios teríamos um mundo bem melhor, mas sempre tem alguém pagando uma taxa de agilização de serviços, uma tarifa de aceite em concorrência de negócios, um valor de facilitação de processos, uma preço de inibição de visão mais profunda de falhas e erros, uma taxa de comprometimento nas atividades fora do padrão, entre outras. Conseguiu identificar algumas delas?

Se todas as organizações fossem engajadas com a missão, objetivos e regras da empresa, das leis de proteção das pessoas, muita coisa seria diferente, mas quando ocorrem “acidentes” como os da Boate Kiss – RS; Barragem de Fundão – MG; Barragem de Brumadinho – MG; as pontes da Marginal de Pinheiros – SP, entre outros casos, onde os interesses pessoais sobrepõem os corporativos e das comunidades, não adianta publicar leis e ISO’s de Continuidade, de riscos, processos, de compliance, pois desta forma não existem controles internos, compliance e gestão de riscos que deem jeito.

Gostaria de evidenciar que estou generalizando, existem empresas com administradores, gestores e colaboradores engajados, nossa crítica, portanto, vai para àquelas que não estão próximas a atender as principais práticas de governança.

O desgaste é muito grande na implementação de uma gestão de riscos e compliance focadas nas boas práticas de governança corporativa, afinal, não basta ter profissionais especializados dentro da organização se não são ouvidos, pois ser preventivo é representar um processo que pode incorrer em custos excessivos se a implementação não possuir questões técnicas e soluções aplicáveis ao tamanho e porte do negócio, a organização necessita fazer a sua parte junto a clientes, fornecedores, colaboradores, comunidade, e todas as partes interessadas, como fazer algo errado de grandes proporções e olhar para esposa, filhos, pais, amigos, investidores, sócios, empregados? Pense nisso, se ainda possui o mínimo de conduta e caráter pessoal.

Tudo isso passa por processos de conduta, ética, conformidade, riscos, controles internos, continuidade, crises, entre outros. Será que uma auditoria ou uma fiscalização voltada para a proteção de vidas e do negócio seriam uma das soluções? E as falhas continuam acontecendo, seria por falta de supervisão ou falta de conduta nos negócios? Penalidade, punições, mudanças nas leis, será que precisamos mudar o que mais nas organizações? Leis já temos, faltam ser seguidas, afinal, alguém sabe o que aconteceu com o processo da Boate Kiss? E o pessoal de Mariana, vítimas de um rompimento de barragem ocorrido em 2015, que segundo avaliações, cinco vezes maior que a de Brumadinho. Culpar governantes não basta, devemos identificar quem realmente “(fr)agilizou” o processo, devemos punir exemplarmente, uma vez que por mais boa vontade que tenha, esses representantes precisam ser mais responsáveis na gestão seja ela pública ou privada.

Deixo aqui meus sinceros sentimentos a todos que perderam alguém, ou simplesmente tiveram encerrados seus sonhos de vida, por mais um evento gerado pelo próprio homem, pois os eventos da natureza não possuem maneiras de serem evitados, somente tentamos minimizá-los, mas quando somos os causadores das dores das pessoas, alguém ou algumas pessoas devem ser responsabilizadas pela negligência de alguma lei ou modelos de negócio, portanto quantas Marianas e Brumadinhos teremos que vivenciar?

Fonte: Revista Meio Ambiente Industrial & Sustentabilidade