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Jefferson Kiyohara

Jefferson Kiyohara é diretor de Compliance & Sustentabilidade na ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna,investigação e proteção e privacidade de dados. É também coordenador técnico de Compliance Sustentável e professor de Ética & Compliance na FIA Business School, palestrante internacional em Compliance e co-autor de livro, e CCEPI.

Formado em Administração pela FEA USP, tem extensão em Gestão de Projetos e MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios pela FGV-SP, além de MBA Executivo em Marketing pela ESPM-SP.Com mais de 20 anos de experiência no mercado, trabalhou em projetos de consultoria em diversas empresas no Brasil e no exterior, incluindo a América do Sul, Central, do Norte e no Oriente Médio.

Precisamos repensar a integridade dos negócios

O que significa tomar decisões éticas no contexto empresarial? Qual a abrangência dos Programas de Integridade e de Compliance? Desde 2013, com o fortalecimento do termo Compliance no Brasil, os temas ética, integridade e Compliance ganharam os holofotes, pauta nas agendas executivas e passaram as ser trabalhados de forma estruturada e sistematizada. O foco foi o fomento de uma cultura ética, baseado no código de conduta ética, nas políticas da organização e no respeito às legislações e regulamentações aplicáveis, em especial a lei anticorrupção e outras de crimes financeiros.

Desta forma, a preocupação inicial estava em evitar corrupção, fraude, conflito de interesses e afins. Nos últimos anos, ganhou força o combate ao assédio moral e sexual, a discriminação e o racismo. A pauta diversidade, equidade e inclusão ganhou destaque, e por consequência fortalece a parceria do Compliance com a área de Recursos Humanos. Mas seria isto suficiente? Com a pandemia, a demanda de investidores, reguladores e outros, os temas Sustentabilidade e ESG (em português, Ambiental, Social e Governança) voltaram a ganhar força, e a forma que o tema integridade vem sendo tratado passa a ser questionado, existindo demanda para um entendimento mais amplo e holístico. É preciso contemplar as relações humanas, os stakeholders e o impacto no planeta.

Em termos práticos, no ponto de vista de um cidadão comum, o que seria considerado uma empresa ética, com cultura de integridade? Certamente teríamos que ir além do que os Programas de Compliance tradicionais cobrem. Um ponto de partida é entender como a empresa respeita as pessoas e os seus direitos. Neste contexto, é importante observar como a empresa trata seus colaboradores e terceiros, se há um ambiente positivo de trabalho e um real combate à precarização e à toxidade laboral, além da promoção da remuneração justa, em toda a sua cadeia.

Além disto, a empresa deve entregar produtos e serviços de qualidade, que cumprem minimamente com o esperado, e que respeitem a saúde e o bem-estar de seus clientes e da população em geral. É preciso respeitar os direitos do consumidor, e ir além, reduzindo ou eliminando impactos negativos na comunidade ou em seu entorno, e atuar sem degradar as condições de vida das pessoas.

Há ainda a necessidade de ampliarmos para a questão de impactos em outros seres vivos e para o planeta. É importante entender como a empresa está respondendo aos riscos climáticos e desafios de se tornar carbono neutro, e se está trabalhando para a mudança de sua matriz energética, tornando-se menos dependente de combustíveis fósseis. É preciso ser transparente no que está sendo feito para mitigar os efeitos das emissões dos gases de efeito estufa, bem como ter ações para combater a poluição das águas, do ar e do solo. Vale também entender como a empresa contribui para a proteção e manutenção de ecossistemas e da biodiversidade, e se a economia circular e a prática de redução na geração de resíduos fazem parte do plano de negócios.

A integridade precisa ser vista e trabalhada de uma forma mais ampla e completa. A conta para os impactos negativos e prejuízos causados a terceiros, inclusive indiretamente, vai chegar e será cobrada. São os investidores e o mercado financeiro demandando maior transparência e confiabilidade dos relatórios para melhor avaliação dos riscos, governos com impostos e condicionantes comerciais, como a taxação das emissões de carbono e a proibição de produtos originados de áreas florestais devastadas, os legisladores e reguladores com novos requisitos e os consumidores conscientes e ativistas exigindo produtos e serviços genuinamente sustentáveis.

E para quem acha que este discurso é uma realidade distante, sem conexão com o mundo dos negócios, convido a conhecerem as práticas do Capitalismo Consciente, o Sistema B e os 17 ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. São práticas e diretrizes alinhadas com este conceito ampliado de integridade já adotadas com sucesso por empresas dos diversos setores, dos mais variados portes e nacionalidades. Que tal integrar este grupo?