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ESG depende da agenda de curto prazo

Semana ESG foi encerrada com debate com Aspásia Camargo, que chamou atenção para a urgência no cumprimento das metas sustentáveis nos próximos anos para que se obtenha avanços a longo prazo

Por Cintia Salomão

Sob o tema “As práticas ESG e a interação com a sociedade”, a Insight Comunicação encerrou o evento virtual Semana ESG: o Novo Paradigma Ético das Empresas, que durou cinco dias seguidos, teve 15 horas de duração e reuniu 34 especialistas de renome. A ex-secretária-executiva do Meio Ambiente, a socióloga Aspásia Camargo, foi convidada para desenvolver o tema final, em uma conversa com a editora do Portal Integridade ESG, Mariza Louven.

A jornalista lembrou os diversos temas que foram discutidos ao longo da semana com especialistas na agenda ESG. Entre os aspectos ESG abordados estiveram o papel da regulação e dos investidores, o impacto social das empresas, o cuidado com a proteção de dados, a importância da diversidade para o mundo dos negócios e da mudança da cultura corporativa, por meio dos programas de comunicação, de compliance e de integridade.

Aspásia, que implementou a Agenda 21 Brasileira e foi secretária estadual de Cultura do Rio de Janeiro, elogiou o conteúdo do evento promovido pela Insight Comunicação.

“Foi uma maratona, um trabalho extremamente competente da Insight, que pode abrir muitas portas para o desenvolvimento da sigla ESG. Agora, o esforço é capturar tudo o que foi dito de importante”, frisou.

A professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da UERJ definiu a agenda ESG como resultado de longo processo evolutivo.

“Em primeiro lugar, o ESG é fruto de um longo caminho e de um longo desenvolvimento. Acho que temos que comemorar a chegada até aqui. Como podemos constatar pelas polêmicas que existem, há muitas zonas de sombras, e devemos melhorar”.

Para Aspásia ex-integrante do Partido Verde e do PSDB que exerceu mandatos de vereadora e deputada estadual fluminense, a agenda sustentável entrou em evidência nos últimos dois anos, mas a sociedade precisa ter cuidado e filtrar as ações que levam o rótulo “ESG”.

“O termo ESG virou moda de dois anos para cá. Embora exista desde antes, o acrônimo ganhou charme e atratividade recentemente. Mas, como tudo que entra na moda, precisa ser avaliado com cuidado e filtrado”, alerta.

A ex-presidente da Comissão de Saneamento da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e do Plano Diretor do Rio de Janeiro na Câmara de Vereadores defendeu as metas de curto prazo para que se consiga avançar em longo prazo.

“A ilusão do longo prazo pode nos impedir de caminhar a longo prazo. Vivemos isso há 50 anos. Vamos morrer queimados vivos se não fizermos agora o dever de casa. Antes, o ano de referência era 2100, agora sabemos que o número mágico é 2050”, comentou, observando que as previsões catastróficas feitas anos atrás acabaram se confirmando mais rápido do que imaginava.

Ela destaca a obra Visão Global 2050 como sua atual “bíblia ambiental”, produzida, segundo Aspásia, por empresários pioneiros que foram longe. “Eu a carrego embaixo do braço”, contou.

Agenda ESG floresceu sob a crise do modelo da globalização

Aspásia Camargo chamou atenção para os aspectos políticos que estão por trás dessa discussão. A agenda da governança acabou ganhando impulso a partir da crise da globalização como modelo econômico, observou.

“Isso tudo tem a ver com a crise da globalização. Esgotamos o modelo que estava em curso há 20 anos, com praticamente um único país hegemônico e muito capital rolando de continente para continente através do comércio. As empresas enriqueceram muito. Esse complexo de culpa ajudou a apressar o ESG, pois todas querem mostrar sua responsabilidade social e ambiental”, explicou, lembrando a importância da Conferência de Estocolmo, de 1972, marcada pelo impasse entre os países em desenvolvimento, que queriam continuar a crescer sem limites, e a pressão da sociedade a respeito do esgotamento dos recursos, que ameaçava a população do planeta.

A governança surgiu no mundo corporativo como necessidade a partir dos anos 2000, quando os governos em todo o mundo perceberam que os Ministérios do Meio Ambiente, sozinhos, não conseguiam obter avanços significativos. Além disso, as companhias perceberam que a agenda ESG era interessante até do ponto de vista dos resultados financeiros.

“Como uma empresa vai sobreviver se não tiver uma oferta de recursos ambientais permanente? As empresas descobriram isso e mais: quem investia na gestão ambiental tinha mais lucro, pois economizava”, afirmou Aspásia, que foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Em seguida, com a definição dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a ONU facilitou o trabalho dos envolvidos e mobilizou a população global em torno dos temas sustentáveis.

As pequenas e médias empresas precisam ter mecanismos para avançar e se defender no âmbito da agenda ESG, além de merecer mais fatias por parte dos credores.

“Por que dar somente para o poderoso agrobusiness? Precisamos criar clusters de médias e pequenas empresas associadas para que possam entrar no mercado de carbono e contar com a proteção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As médias empesas são muito sacrificadas no Brasil”, defendeu.

Aspásia lamentou o fato de que o Executivo brasileiro não atende às expectativas ambientais da sociedade.

“Quero meu país na vanguarda. Não me conformo ao ver que, nos últimos 30 anos, nossos governantes não estiveram à altura. Somos líderes na área de recursos naturais, a economia verde é muito maior do que o agrobusiness”, enfatizou.

Ao elogiar a criação do Fundo Soberano da Alerj, Aspásia sugeriu que seus recursos sejam usados para investir no mercado de compensação de carbono em um estado cuja economia depende dos royalties do petróleo e “vocacionado” para o desenvolvimento sustentável.

“O Instituto Rio Metrópole pode ajudar nesse processo ao envolver a Região Metropolitana, onde há emissões gigantescas de carbono e mobilidade ruim. Precisamos investir em transporte de massa e energia renovável. Nossa falha está justamente nessas engrenagens institucionais”, concluiu.

Fonte: Insight, em 12.08.2022